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Os planetas anões

26/08/2010

O Sistema Solar é um conjunto com vários tipos de objetos. Há os cometas, um núcleo de gelo sujo de onde se estendem belas caudas (mas que não devemos confundir com os meteoros ou “estrelas cadentes”), os asteróides, rochas irregulares feito batatas, e os planetas que são redondos como as suas luas. Todos eles – exceto as luas – giram em volta do Sol, que é uma estrela.

Geralmente os asteróides são maiores que os cometas enquanto os planetas são sempre maiores que suas luas. Mas definir com precisão cada uma dessas classes de objetos raramente é uma tarefa simples. Não basta conhecer bem a natureza de cada um, suas características próprias, como tamanho, forma e composição. Contexto e localização são igualmente importantes.

Ganimedes, uma das mais de 60 luas de Júpiter, é redonda, rochosa e maior que o planeta Mercúrio. Mas gira em torno de Júpiter e por isso é um satélite e não um planeta. Nenhuma dúvida quanto a isso.

Planeta X
MAS O CASO DE CERES FOI DIFERENTE. Descoberto em 1801, ele parecia mesmo o planeta que faltava naquele espaço aparentemente vazio entre as órbitas de Marte e Júpiter.

Porém, novos achados puseram em dúvida essa classificação. Pallas em 1802, Juno em 1804, Vesta em 1807... Quase todos os anos eram descobertos novos objetos em órbitas similares a de Ceres.

Por fim, a comunidade científica decidiu acatar a sugestão do astrônomo inglês William Herschel e Ceres entrou para uma categoria recém criada de objetos – os asteróides. A essa altura, meio século havia se passado desde que Ceres fora descoberto e aclamado como mais um planeta do Sistema Solar.


EM VÁRIOS FORMATOS. os asteróides são exemplares de uma população distinta.
Se ainda fossem considerados planetas, as crianças teriam sérias dificuldades
na escola: decorar os "nomes" de mais de 130 mil "planetinhas".


No ano de 1850 contávamos 8 planetas no Sistema Solar. E teríamos de esperar 80 longos anos até que o norte-americano Clyde Tombaugh descobrisse Plutão (1930). Sua descoberta foi recebida pelos pesquisadores como o tão procurado “Planeta X”, um astro causador de estranhas perturbações na órbita de Netuno.

Anomalias
LOGO SE PERCEBEU QUE ELE ERA PEQUENO DEMAIS para ter tamanha responsabilidade. Milhares de vezes menor. Plutão, o menor planeta do Sistema Solar – menor até mesmo que a nossa Lua – não tinha massa suficiente nem para provocar cócegas em Netuno.

Mas naquela época não havia como saber muito sobre ele. Quase quarenta vezes mais longe do Sol que a Terra, Plutão leva penosos 248 anos para completar um único ano, uma só volta em torno do Sol. Com uma curiosidade: ele passa internamente à órbita de Netuno, perdendo o trono de planeta mais distante do Sol de tempos em tempos.

E afinal as tais anomalias da órbita de Netuno não passavam de observações mal interpretadas. Ao contrário de Plutão, com sua órbita excêntrica e bastante inclinada com relação ao plano da órbita terrestre – algo típico dos asteróides. Durante décadas Plutão foi um “planeta irregular”.

Xena ameaça Plutão
A SITUAÇÃO COMEÇOU A MUDAR quando os astrônomos reconheceram Plutão como membro de uma nova população de objetos descoberta além da órbita de Netuno, o Cinturão de Kuiper (veja esta gravura). Seus integrantes são comumente chamados de KBOs (do inglês, Kuiper Belt objects) ou ainda TNOs (trans-Neptunian objects).

Alguns objetos dessa região se tornariam conhecidos do público. Como Sedna, descoberto em 2003 por Michael Brown, astrônomo do Instituto de Tecnologia da Califórnia. Pouco menor que Plutão, ele chegou a ser aclamado como o décimo planeta do Sistema Solar, mas quem levou mesmo essa fama foi outra descoberta de Brown, feita dois anos depois.

Mas em 2005 essa descoberta sequer tinha um nome, e a imprensa teve que se contentar com o código do novo corpo celeste: 2003 UB313. Até que Brown o apelidou de “Xena”, ao confessar que era fã do seriado da TV (à direita). Xena Também tinha um satélite, rapidamente chamado Gabriele, a companheira de aventuras de Xena.

Mas na vida real um fato incomodava bastante os astrônomos: Xena é maior que Plutão. Até então, simplesmente não havia uma definição formal de planeta, sendo aceito na categoria todo astro que gira em torno do Sol e possui no mínimo massa igual à de Plutão (o que invariavelmente lhe confere uma forma arredondada).

Deusa da discórdia
ASSIM, SE XENA NÃO FOSSE UM PLANETA, Plutão também não seria. Por outro lado, transformar o objeto descoberto por Brown no décimo planeta do Sistema Solar poderia ser a repetição de um erro histórico. Novas descobertas aumentariam esse número indefinidamente.

Era o começo de uma história que já havia sido contada antes. O status de um “planeta consagrado” estava sendo questionado outra vez. O precedente não foi somente Ceres. Por mais incrível que pareça, no passado a Lua e o Sol já haviam sido classificados como planetas!

Também foi escolhido o nome oficial de 2003 UB313. Apesar do apelido ser até simpático, a decisão não poderia ter sido melhor. De agora em diante, Xena será Éris, a deusa da mitologia que personifica a discórdia.

Afinal, foi sua descoberta que lançou polêmica entre os astrônomos sobre a definição de planeta, causando, indiretamente, a re-classificação de Plutão. Seu satélite também passa a ser chamado Disnomia – “desordem” em grego – a filha da deusa Éris.

O sistema Éris-Disnomia é semelhante ao sistema Terra-Lua. Apesar das dimensões mais reduzidas, o satélite de Éris está dez vezes mais próximo do planeta que a Lua da Terra. Estima-se que Disnomia seja oito vezes menor e sessenta vezes menos brilhante que Éris e leve 14 dias para completar uma volta em torno dele.

Fazendo ciência
O RESTO DA HISTÓRIA É NOTÍCIA. Reunidos em Praga em 24 de agosto de 2006, astrônomos decidiram pela criação de uma nova categoria de objetos: os planetas anões. Nele se enquadram, de uma só vez, Éris, Plutão e também Ceres – que de planeta em 1801, havia passado a asteróide em 1852, e então mudou novamente de categoria.

Muita gente não gostou, embora, rigorosamente falando, Plutão continue sendo um planeta. Talvez fosse mais apropriado criar uma categoria que não fizesse referência a palavra “planeta” – mas foi apenas criado um subconjunto de “planetas”: os anões.

É importante recordar que há tempos estamos classificando os planetas em rochosos (também chamados terrestres ou telúricos, que são Mercúrio, Vênus, Terra e Marte) e gasosos (jovianos ou gigantes, que são Júpiter, Saturno, Urano e Netuno). Agora também temos os planetas anões.

Mas é conveniente ressaltar que a nova classificação não deve durar muito (embora seja improvável que Plutão volte a ser considerado um planeta “regular”). Há muita discussão dentro da própria comunidade astronômica.

Não poderia ser diferente. Os cientistas precisam de definições cuidadosas, que refletem nosso entendimento da natureza. Se uma nova descoberta torna um velho conceito obsoleto, é preciso revisá-lo – e estamos vivendo um momento em que nossa visão do Sistema Solar está passando por uma revisão revigorante.


SETE ANÕES Os chamados planetas anões são menores que muitas luas do Sistema Solar, mas ainda mantêm o status de planeta porque giram em volta de uma estrela.


Teoria dos conjuntos
FIM DA HISTÓRIA? SÓ SE O MUNDO TIVESSE ACABADO ONTEM. A Astronomia é uma ciência e nenhuma ciência está terminada. As definições continuam evoluindo com o tempo.

A ciência é uma ferramenta para o entendimento da natureza e não um conjunto de declarações sobre como a natureza deve ser. Todo esse debate fornece aos educadores um excelente exemplo de como funciona o “método científico”.




E por falar em conjuntos, para o seu conhecimento, nesse intrincado conjunto de objetos que chamamos de Sistema Solar, conhecemos até agora 1 estrela (o Sol), 8 planetas (de Mercúrio a Netuno), 5 planetas anões (veja lista atualizada a seguir), mais de 150 satélites e milhares de asteróides (principalmente entre Marte e Júpiter e depois de Netuno). Há os cometas também, é claro. É que eles não deram tanta dor de cabeça até agora. A não ser para os dinossauros...

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