Este artigo pretende resumir argumentos favoráveis e contrários a existência de Deus que têm sido recorrentes ao longo da história da teologia cristã e da filosofia ocidental.
A ideia de "Deus"
Existem diferentes definições para Deus, o qual tanto pode ser um ser com poderes sobrenaturais, amado ou temido, quanto representar o princípio criador e mantenedor de todas as coisas do universo.
A definição de Deus abraâmico é de um Ser Supremo, um espírito dotado de entendimento e de vontade, infinitamente perfeito que existe por si mesmo - porque de ninguém recebeu a existência, ninguém O fez - e de quem todos os outros seres recebem a existência. É o único Ser necessário que existe desde toda a eternidade, sempre existiu e sempre existirá. Deus é Aquele que é.
Argumentos pela existência de Deus
Argumento ontológico
O assim denominado argumento ontológico da existência de Deus foi desenvolvido por Santo Anselmo de Canterbury na obra "Proslogion". Os passos do raciocínio anselmiano são os seguintes:
Existe na mente de todo homem a ideia de um ser que não se pode pensar outro maior;
Existir só na mente é menos perfeito do que existir na mente e também na realidade;
Se o ser maior do que o qual não se pode pensar outro só existisse na mente seria menor do que qualquer outro que também existisse na realidade;
Logo, o ser do qual não se pode pensar outro maior deve existir também na realidade (existência real necessária), logo conclui-se que existe Deus e esse ser é perfeitíssimo.
Defenderam esta tese com argumentos distintos São Boaventura, Duns Scoto, Descartes, Leibniz, Hegel, Isaac Newton quando citou a mecanica celeste ou gravitação universal, Karl Bath, N. Malcom
As Cinco Vias de São Tomás de Aquino
Santo Tomás de Aquino, na sua obra Suma Teológica ensina que Deus é o princípio e o fim de todas as coisas e que, fazendo apenas o uso da luz natural da razão a partir das coisas criadas, é possível demonstrar a Sua existência, sem ter de recorrer a nenhum outro argumento de natureza religiosa ou dogmática, para isto propõe cinco vias de demonstração de natureza exclusivamente filosófico-metafísica.
As cinco vias são provas a posteriori, que têm como ponto de partida as criaturas enquanto entes causados para se atingir como termo de chegada a necessidade da existência de Deus; são demonstrações metafísicas (causalidade do ser) e não científico-positivas (causalidade apenas dos fenômenos), mesmo partindo da experiência sensível e, aplicando o princípio da causalidade, mostram ser impossível se proceder ao infinito na cadeia de causas.
1a. via - Primeiro Motor Imóvel Nossos sentidos atestam, com toda a certeza, que neste mundo algumas coisas se movem. Tudo o que se move é movido por alguém, é impossível uma cadeia infinita de motores provocando o movimento dos movidos, pois do contrário nunca se chegaria ao movimento presente, logo há que ter um primeiro motor que deu início ao movimento existente e que por ninguém foi movido, e um tal ser todos entendem: é Deus.
O movimento aqui é considerado no sentido metafísico, isto é passagem da potência - como sendo aquilo que uma coisa pode vir a ser, para o ato - aquilo que a coisa é no momento. Deus é ato puro e não sofre mudança o seu Ser confunde-se com o Agir.
2a. via - Causa Primeira ou Causa Eficiente Decorre da relação "causa-e-efeito" que se observa nas coisas criadas. Não se encontra, nem é possível, algo que seja a causa eficiente de si próprio, porque desse modo seria anterior a si prórpio: o que é impossível. É necessário que haja uma causa primeira que por ninguém tenha sido causada, pois a todo efeito é atribuída uma causa, do contrário não haveria nenhum efeito pois cada causa pediria uma outra numa sequência infinita e não se chegaria ao efeito atual. Logo é necessário afirmar uma Causa eficiente Primeira que não tenha sido causada por ninguém. Esta Causa todos chamam Deus. Assim se explica a causa da existência do Universo.
3a. via - Ser Necessário e Ser Contingente Existem seres que podem ser ou não ser, chamados de contingentes, isto é cuja existência não é indispensável e que podem existir e depois deixar de existir. Todos os seres que existem no mundo são contingentes, isto é, aparecem, duram um tempo e depois desaparecem. Mas, nem todos os seres podem ser desnecessários se não o mundo não existiria, alguma vez nada teria existido, logo é preciso que haja um Ser Necessário e que fundamente a existência dos seres contingentes e que não tenha a sua existência fundada em nenhum outro ser.
Igualmente, tudo o que é necessário tem, ou não, a causa da sua necessidade de um outro. Aqui também não é possível continuar até o infinito na série das coisas necessárias que têm uma causa da própria necessidade. Portanto, é necessário afirmar a existência de algo necessário por si mesmo, que não encontra em outro a causa de sua necesidade, mas que é causa da necessidade para os outros: o que todos chamam Deus.
Do Nada não surge e nem advém o Ser. Como se observa que as coisas existem, não pode ter havido um momento de Nada Absoluto, pois daí não se brotaria a existência de algo ou coisa alguma.
4a. via - Ser Perfeito e Causa da Perfeição dos demais Verifica-se que há graus de perfeição nos seres, uns são mais perfeitos que outros, o universo está ontologicamente hierarquizado - seres racionais corpóreos, animais, vegetais e inanimados) qualquer graduação pressupõe uma parâmetro máximo, logo deve existir um ser que tenha este padrão máximo de perfeição e que é a Causa da Perfeição dos demais seres.
4a. via - Ser Perfeito e Causa da Perfeição dos demais Verifica-se que há graus de perfeição nos seres, uns são mais perfeitos que outros, o universo está ontologicamente hierarquizado - seres racionais corpóreos, animais, vegetais e inanimados) qualquer graduação pressupõe uma parâmetro máximo, logo deve existir um ser que tenha este padrão máximo de perfeição e que é a Causa da Perfeição dos demais seres.
5a. via - Inteligência Ordenadora Existe uma ordem admirável no Universo que é facilmente verificada, ora toda ordem é fruto de uma inteligência ordenadora, não se chega à ordem pelo acaso e nem pelo caos, logo há um ser inteligente que dispôs o universo na forma ordenada. Com efeito aquilo que não tem conhecimento não tende a um fim, a não ser dirigido por algo que conhece e que é inteligente, como a flecha pelo arqueiro. Logo existe algo inteligente pelo qual todas as coisas naturais são ordenadas ao fim, e a isso nós chamamos Deus.
Há uma ordem em todos os seres, o menor vegetal, p. ex. tem órgãos para cada função ordenados para a preservação da espécie. Esta ordem pressupõe uma Inteligência ordenadora, pois a ordem não vem do caos e nem do acaso. Da mesma forma as letras de um livro não são colocadas ao acaso. Logo a ordem existente no mundo prova a existência de uma Inteligência que ordenou todas as coisas nos mínimos detalhes. É necessário que exista uma Inteligência Suprema que tenha ordenado o Universo criado.
Platão e Aristóteles (por Rafael Sanzio, 1509) concluíram pela necessidade da existência de uma inteligência ordenadora do universo.
O Mal no Mundo
A existência do "mal" tem sido usada como argumento para a inexistência, ou pelo menos, da incongruência da existência de Deus. Hume (1711-1776) adianta: "Quererá [Deus] impedir o mal, mas não é capaz? então é impotente. Será que é capaz, mas não o deseja? então é malévolo. Terá tanto o desejo como a capacidade? então porque é que existe o mal?".
Em relação a estes argumentos, Santo Tomás explica que "Deve-se dizer com Santo Agostinho: 'Deus soberanamente bom, não permitiria de modo algum a existência de qualquer mal em suas obras, se não fosse poderoso e bom a tal ponto de poder fazer o bem a partir do próprio mal'. Assim, à infinita bondade de Deus pertence permitir males para deles tirar o bem".
"O mal é ideia do homem, não de Deus. Ele, que deu ao homem o livre-arbítrio e pôs em marcha o Seu plano para a humanidade, não interfere continuamente para tirar ao homem o dom da liberdade. Se o inocente e o justo têm de sofrer a maldade dos maus, a sua recompensa no final será maior, os seus sofrimentos serão superados com sobra pela felicidade futura".
O mal, ou infortúnio, decorre do fato da criatura ser limitada e imperfeita, porque dele pode tirar um bem maior: aprendizados que geram novas virtudes e méritos pela superação das condições adversas. Assim, o mal teria a função de ensinar aos homens os seus próprios limites, corrigindo e reordenando a criatura pela aplicação de provas e expiações.
Imagem e semelhança de Deus
A existência de deficiências fisicas nos humanos, ou a presença de órgão vestigiais têm sido usados como argumentos contra a existência de Deus, no entanto, segundo Santo Tomás de Aquino deve-se dizer que o homem é a imagem de Deus, não segundo seu corpo, mas segundo aquilo pelo que o homem supera os outros animais. O homem é superior aos outros animais pela razão e pelo intelecto. Portanto, é segundo o intelecto e a razão, que são incorpóreos, que o homem seria a imagem de Deus.
Argumento da existência do Mundo
O mundo exige uma causa de si, que se chama Deus. Não há efeito sem causa. Todo o ser que começa a existir tem uma causa. O universo tem um grau de complexidade superior a qualquer obra humana conhecida. Logo não se pode admitir que tenha aparecido sem que um Ser lhe tenha dado a existência. Assim como um edifício pressupõe um engenheiro ou um quadro o pintor. Esse Ser chama-se Deus.
Argumento da impossibilidade científica da negação
Não se pode cientificamente provar que Deus não existe. Este argumento é usado para mostrar que não se consegue provar a inexistência, mas não prova a existência.
Este argumento trata-se da falácia argumentum ad ignorantiumexplicado no guia das falácias de Stephen Downes. É um caso de falso dilema, pois a falta de prova não é prova.
Conhecimento de Deus por analogia
A partir do conhecimento das criaturas pode-se atribuir a Deus todas as perfeições que nelas se encontram e as que se pode conceber, bem como n'Ele negar tudo o que as criaturas têm de limitado e imperfeito.
Assim, são atributos de Deus, segundo Santo Tomás:
Unidade - é indivisível (tanto em ato como em potência), não possui composição alguma.
Unicidade - é unico, não pode haver mais que um Deus, a onipotência de um comprometeria a do outro.
Suprema perfeição - "perfeito é aquilo que está totalmente feito". Todas as perfeições das criaturas (efeitos) se encontram em Deus de modo indiviso e em grau eminente (causa).
Beleza suprema - é a suprema harmonia de todas as perfeições criadas e o seu conhecimento é a máxima felicidade possível
Simplicidade - não é composto de partes, o que implica que não tem corpo e nem partes de nenhuma espécie.
Imensidade - não está sujeito a espaço, pode estar em todos os lugares sem estar circunscrito a eles.
Infinidade - é infinito, tem todas as perfeições em grau máximo e ilimitado. Se pudesse ser aperfeiçoado não seria Deus e sim aquele que Lhas desse.
Imutabilidade - não está sujeito a mudanças nem no seu Ser e nem nos seus desígnios.
Eternidade - não teve princípio e não terá fim, sempre existiu e não deixará de existir.
Onisciência - possui inteligência e entendimento ilimitados, tudo sabe e tudo conhece.
Onipotência - a vontade de Deus é onipotente, não tem limites, e é perfeitamente boa e justa. Sendo infinitamente justo retribui a cada um segundo as suas obras.
Onipresença - tem a capacidade da ubiquidade, pode estar em todos os lugares e, mais do que estar num lugar, dá a existência ao próprio lugar.
Suprema bondade - Deus é a bondade infinita. Quanto mais perfeito é um ser tanto mais é desejável, Deus é o mais desejável dos seres é o Bem Supremo.
Sabedoria - é mais que sábio, é a própria Sabedoria ilimitada.
Santidade - é infinitamente santo e belo e fonte de toda a beleza e santidade.
Misericordioso - Deus é todo misericórdia, perdoa tantas vezes quantas nos arrependemos.
Transcendência - não se confunde com o mundo, está fora do mundo e acima da realidade material.
Conhecimento divino e liberdade humana
Que Deus saiba quais os atos o homem praticará não implica dizer que Ele seja a causa destes atos; pelo contrário, é a decisão do homem de praticar o ato que permite que Deus saiba que ele será praticado. Da mesma forma, quando o serviço de meteorologia prevê a ocorrência de um tornado amanhã, esta previsão não o torna a causa do tornado. Ao contrário, aquilo mesmo que fará com que haja a tempestade amanhã é que proporciona ao meteorologista a base da sua previsão.
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