Não há nenhum planeta-gigante-vermelho vindo em direção a Terra. Se você ouviu essa história em algum lugar, esqueça. É sensacionalismo barato. A verdadeira ameaça vem de rochas muito menores, do tamanho de uma montanha, escuras e difíceis de detectar. Como Apófis.
Esse asteróide de 350 metros de largura foi anunciando em dezembro de 2004 como tendo uma chance de 0,3% de colidir com a Terra em 13 de abril do ano 2029. Embora a possibilidade pareça insignificante, ele foi o primeiro a atingir o nível 2 da escala de Torino, que classifica o perigo associado a asteróides e cometas (veja abaixo).
escala de risco de impacto
Difícil previsão
ATUALMENTE SOMOS CAPAZES DE IDENTIFICAR com eficiência asteróides com pelo menos um quilômetro de extensão, embora os menores também sejam perigosos. Determinar se podem nos atingir numa passagem futura, contudo, é sempre um desafio ainda maior.
É que essas “montanhas voadoras” precisam ter suas trajetórias orbitais muito bem determinadas. Somente então faz sentido a aplicação das equações que fornecem suas posições futuras, e que consideram a interação gravitacional com corpos mais massivos nas redondezas, como planetas – o que altera novamente seus rumos, num intrincado trânsito orbital que pode acabar em trombada.
Muitas vezes os astrônomos tem informações apenas sobre um pequeno fragmento orbital, colhido em poucos dias de observação. Refinamentos posteriores geralmente alteram as previsões iniciais. Foi o que aconteceu com Apófis. Mesmo assim sua passagem em 2029 será um rasante tão próximo (menos de um décimo da distância Terra - Lua) que ele poderá ser visto a olho nu.
Evitando o pior
NA PIOR DAS HIPÓTESES ELE ATINGIRIA A TERRA na passagem seguinte, em 2036. O mais provável é que não represente uma ameaça, mas ainda assim seria bom que pudéssemos nos precaver de alguma forma. E as propostas já existem.
A Agência Espacial Européia (ESA) escolheu Apófis e mais outro asteróide para uma operação de desvio de trajetórias orbitais que está sendo chamada de Missão Dom Quixote.
O asteróide (10302) 1989 ML, de 600m de diâmetrro e cuja órbita fica entre Marte e a Terra, receberá a visita das naves Sancho e Hidalgo para testar a manobra pela primeira vez.
Hidalgo, homenagem ao cavaleiro errante criado pelo espanhol Miguel de Cervantes, colidirá com o asteróide escolhido, enquanto Sancho, o fiel escudeiro do herói, observará a colisão, documentando a mudança de trajetória.
Os americanos também estudam utilizar um rebocador espacial que atracaria com a superfície do asteróide ameaçador. Um empurrão lento durante uns três meses na direção do seu próprio movimento orbital seria suficiente para resguardar a Terra de um impacto (o aumento da velocidade orbital expande a órbita de um corpo, mudando seu rumo).
Tudo deve ser testado o mais rápido possível – com asteróides conhecidos. Os programas de patrulhamento celeste devem ser ampliados e aperfeiçoados. Somente com antecedência de pelo menos uma década poderemos fazer alguma coisa.
Vizinhos perturbados
ESSES CORPOS CELESTES NÃO VÊM DE LONGE, de fora do nosso sistema planetário. Pelo contrário, são “habitantes” da parte rasa do Sistema Solar, vagando ao redor do Sol em trajetórias elípticas geralmente internas à órbita de Júpiter.
Eles não são grandes como planetas, mas são muitos. A história geológica da Terra – e a superfície esburacada da Lua – guardam marcas de encontros pouco amigáveis no passado. Hoje não se conhece nenhum cuja colisão com o nosso mundo seja certa. Mas é certo que um dia acontecerá de novo.
Diagrama mostra a aproximação de Apófis em 2029. O traço branco, perpendicular a trajetória, representa as posições alternativas para o asteróide nessa data. Em nenhum caso ele colide com a Terra. O rasante é visto a olho nu da Europa, África e Ásia ocidental. Adaptado do diagrama de Paul Chodas/NASA/JPL.
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