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A terra na escuta: alguém aí?

09/09/2010

Pode ser, como querem os cientistas, que no vasto Universo onde a Terra é um ponto menos que insignificante existam muitos mundos nos quais alguma forma de vida inteligente tenha florescido — embora nada indique até agora que algum desses mundos seja um dos oito outros planetas deste sistema solar. Mesmo ao admitir a existência de civilizações extraterrestres, porém, os astrônomos acham pouco provável que seus representantes apareçam aqui um belo dia em carne e osso — se é que de carne e osso são feitos — para uma visita de boa vizinhança. Eles preferem a hipótese de um contato por ondas de rádio.

Esse contato pode ser acidental ou deliberado. Em qualquer dos casos, só se realizará se houver alguém na escuta do lado de cá. Essa é justamente a intenção do SETI (sigla em inglês de Busca de Inteligência Extraterreste), o programa da agência espacial NASA pronto para entrar em ação assim que o Congresso dos Estados Unidos autorizar — e mandar o governo pagar a conta de 100 milhões de dólares.

Trata-se de rastrear metodicamente o espaço em busca de sinais de outras civilizações, supondo, é claro, que elas ainda não tenham aposentado o rádio como meio de comunicação; ou, pior ainda, que não estejam tão fantasticamente longe da Terra a ponto de, quando sua mensagem nos alcançar, milhões de anos terem transcorrido e a civilização que a enviou nem exista mais. Numa primeira etapa, os astrônomos da NASA pretendem usar vários radiotelescópios, entre eles o maior do mundo, em Arecibo, Porto Rico, para captar sinais de oitocentas a mil estrelas a cem anos-luz de distância da Terra. Depois, literalmente, o céu será o limite.

Essa é a mais ambiciosa tentativa do homem de ouvir outros mundos. Representa também uma mudança na política de comunicação dos terráqueos — no passado recente, o homem preferia falar ao Cosmo ao invés de prestar atenção no que ele tivesse a declarar. Em 1974, um grupo de cientistas da Universidade de Cornell, em Nova York, usou o radiotelescópio de Arecibo para dar um alô ao espaço. A saudação terrestre demorou quatro anos só para chegar à estrela Alfa de Centauro, a mais próxima do planeta. A demora e o custo astronômico da transmissão fizeram os cientistas abandonar a idéia de iniciar o contato.

Muito mais em conta foi encaixar mensagens em naves espaciais. A Pioneer 10 foto 193 , primeira nave a cruzar as fronteiras do sistema solar, em 1983, onze anos depois de seu lançamento, levou uma placa de ouro com desenhos explicando a localização da Terra e do sistema solar, além das figuras de um homem e uma mulher. A Voyager 2, lançada em 1977, que deverá sobrevoar Netuno em agosto de 1989, leva uma mensagem bem mais elaborada.

Um disco com duas horas de duração traz a gravação do choro de um bebê, gritos de uma baleia, lançamento de um foguete, estrondo de uma avalanche e o estalo de um beijo. Há saudações em 54 idiomas, entre os quais o português ("Paz e felicidade para todos"), trechos de músicas, desde os clássicos ao rock "Johnny B. Goode", de Chuck Berry. Resta saber o que um eventual ouvinte de outros planetas achará de nós depois desse clip.

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