O QUE É FAMÍLIA NO TERMO
SOCIAL?
A família
é um núcleo de convivência, unido por laços afetivos, que costuma compartilhar
o mesmo teto. É a definição que conhecemos. Entretanto, esta convivência pode
ser feliz ou insuportável, pois seus laços afetivos podem experimentar o
encanto do amor e a tristeza do ódio. E a morada sobre o mesmo teto? Dependendo
dessas fases contrastantes, ela pode ser um centro de referência, onde se busca
e se vivencia o amor, ou... um mero alojamento.
A família não é algo que nos é dado de uma vez por todas, mas nos é
dada como uma semente que necessita de cuidados constantes para crescer e
desenvolver-se. Quando casamos, sabemos que, entre outras coisas, temos essa
semente que pode germinar e um dia dar fruto: ser uma família de verdade.
Devemos, portanto, estar conscientes de que é preciso trabalhá-la e cultivá-la
sempre, constantemente, e com muito amor.
Com isso
Podemos então, definir família como um conjunto invisível de exigências
funcionais que organiza a interação dos membros da mesma, considerando-a,
igualmente, como um sistema, que opera através de padrões transacionais. Assim,
no interior da família, os indivíduos podem constituir subsistemas, podendo
estes ser formados pela geração, sexo, interesse e/ ou função, havendo
diferentes níveis de poder, e onde os comportamentos de um membro afetam e
influenciam os outros membros. A família como unidade social, enfrenta uma
série de tarefas de desenvolvimento, diferindo a nível dos parâmetro culturais,
mas possuindo as mesmas raízes universais.
Alberto Eiguer, psicanalista francês, em seus livros “Um
Divã para a Família” e "O Parentesco Fantasmático" estabelece alguns
“organizadores” que orientam a escolha de parceiro. Para ele, os casamentos e,
por extensão, a família, se estruturam por mecanismos inconscientes ligados às
primeiras experiências de vinculação.
Alberto Eiguer edifica um modelo de vínculos
intersubjetivos narcísicos e objetais, do qual emergirá a representação do
antepassado que desperta identificações cheias ou ocas, estruturantes ou
aniquiladoras. E assim, mostra que doravante faz-se necessário - se admitirmos
que o sujeito utiliza-se do outro como defesa, como fonte e motor de seu
imaginário - pensar a família em termos de "trans geração" e
"mito familial". Afirma que “os objetos parentais constituem o núcleo
do inconsciente familiar”, para o bem e para o mal, pensa o psiquiatra e
psicanalista Cláudio Costa.
Para Eiguer, são três organizadores: 1) Escolha de objeto;
2) as vivências do “eu familiar” e sentimentos de pertença”; 3) o romance
familiar, vivido na primeira infância, representando uma imagem idealizada dos
pais.
Quanto ao primeiro item - “escolha de objeto” - haveria
três modelos:
Uma família norte-americana
1) Escolha objetal anaclítica, ou assimétrica: o homem ou
a mulher buscam um parceiro que lhes forneça amparo e apoio (mãe ou pai da
infância). É uma escolha alimentada pela pulsão de conservação e visa, antes de
tudo, dominar a angústia de perda das figuras parentais. Haveria uma
identificação mútua na perda e cada um idealiza o outro. De alguma forma, o
casal se julga sabedor de como um deve sanar a falta do outro. Dois caminhos se
oferecem: a) defensivo: quando o homem escolhe uma mulher que é o oposto ao pai
e vice versa; b) regressivo: quando se identifica, no parceiro, um sucedâneo da
figura parental de identificação. Conheço um casal, por exemplo, que se
conheceu no Cemitério Parque da Colina(BH), quando ambos velavam as respectivas
mães.
2) Escolha objetal narcisista, ou simétrica: Neste caso, a
pessoa se liga a um parceiro que se assemelha: a) ao que se é; b) ao que se
foi; c) ao que gostaria de ser; d) ao que possui uma parte do que se foi.
O vínculo se estabelece a partir de uma idéia de poder,
orgulho, onipotência e ambição. Por exemplo: o parceiro seria alguém que seja
difícil, a fim de se comparar com ele em força e em capacidade manipuladora. Há
um jogo sadomasoquista na relação. Exemplo: uma pessoa, muito fechada, tímida e
insegura se sente atraída pelo parceiro arrogante e sociável. É provável que
uma das partes acabe desprezando a outra.
3) Escolha objetal edípica, ou dissimétrica: trata-se de
uma escolha regida pela identificação madura e adulta ao pai do mesmo sexo.
Exemplos: a) um rapaz se casa com uma mulher que, de
alguma forma, representa a mãe dele; b) casais que procuram o significado de
sua relação amorosa, de interação homem-mulher, baseados nas vivências
satisfatórias em suas famílias de origem.
As afirmações de Alberto Eiguer se basearam em pesquisas
feitas durante anos, na frança, com casais que procuraram terapia. As bases
teóricas se fundamentam na teoria psicanalítica do Complexo de Édipo e sua
resolução – teoria esta colocada em cheque por inúmeros autores. Afinal, Freud
viveu na época vitoriana e tinha, por modelo, a família estruturada pelo pai,
mãe e filhos. Esse tipo de família, por incrível que pareça, somente foi
definido por Littré, em 1869 (há menos de duzentos anos).
Aliás, é bom lembrar que a palavra "família"
deriva do verbete latino "famulus" = 'domésticos, servidores,
escravos, séqüito, comitiva, cortejo, casa, família'.
Conceito histórico de família
O
termo “família” é derivado do latim “famulus”, que significa “escravo
doméstico”. Este termo foi criado na Roma Antiga para designar um novo grupo
social que surgiu entre as tribos latinas, ao serem introduzidas à agricultura
e também escravidão legalizada.
No
direito romano clássico a "família natural" cresce de importância -
esta família é baseada no casamento e no vínculo de sangue. A família natural é
o agrupamento constituído apenas dos cônjuges e de seus filhos. A família
natural tem por base o casamento e as relações jurídicas dele resultantes,
entre os cônjuges, e pais e filhos. Se nesta época predominava uma estrutura
familiar patriarcal em que um vasto leque de pessoas se encontrava sob a
autoridade do mesmo chefe, nos tempos medievais (Idade Média), as pessoas
começaram a estar ligadas por vínculos matrimoniais, formando novas famílias.
Dessas novas famílias fazia também parte a descendência gerada que, assim,
tinha duas famílias, a paterna e a materna.
Com
a Revolução Francesa surgiram os casamentos laicos no Ocidente e, com a
Revolução Industrial, tornaram-se freqüentes os movimentos migratórios para
cidades maiores, construídas em redor dos complexos industriais. Estas mudanças
demográficas originaram o estreitamento dos laços familiares e as pequenas
famílias, num cenário similar ao que existe hoje em dia. As mulheres saem de
casa, integrando a população ativa, e a educação dos filhos é partilhada com as
escolas. Os idosos deixam também de poder contar com o apoio direto dos
familiares nos moldes pré-Revoluções Francesa e Industrial, sendo entregues aos
cuidados de instituições de assistência. Na altura, a família era definida como
um “agregado doméstico (…) composto por pessoas unidas por vínculos de aliança,
consangüinidade ou outros laços sociais, podendo ser restrita ou alargada”.
Nesta definição, nota-se a ambigüidade motivada pela transição entre o período
anterior às revoluções, representada pelas referências à família alargada, com
a tendência reducionista que começava a instalar-se refletida pelos vínculos de
aliança matrimonial.
Na
cultura ocidental, uma família é definida especificamente como um grupo de
pessoas de mesmo sangue, ou unidas legalmente (como no casamento e na adoção).
Muitos etnólogos argumentam que a noção de "sangue" como elemento de
unificação familiar deve ser entendida metaforicamente; dizem que em muitas
sociedades e culturas não-ocidentais a família é definida por outros conceitos
que não "sangue". A família poderia assim se constituir de uma
instituição normalizada por uma série de regulamentos de afiliação e aliança,
aceitos pelos membros. Alguns destes regulamentos envolvem: a exogamia, a
endogamia, o incesto, a monogamia, a poligamia, e a poliandria.
A
família vem-se transformando através dos tempos, acompanhando as mudanças
religiosas, econômicas e sócio-culturais do contexto em que se encontram
inseridas. Esta é um espaço sócio-cultural que deve ser continuamente renovado
e reconstruído; o conceito de próximo encontra-se realizado mais que em outro
espaço social qualquer, e deve ser visto como um espaço político de natureza
criativa e inspiradora.
Assim,
a família deverá ser encarada como um todo que integra contextos mais vastos
como a comunidade em que se insere. De encontro a esta afirmação, [JANOSIK e
GREEN], referem que a família é um “sistema
de membros interdependentes que possuem dois atributos: comunidade dentro da
família e interação com outros membros”.
Engels
em seu livro Origem da família da propriedade privada e do estado, faz uma
ligação da família com a produção material,utilizando do
materialismo-histórico-dialético,relacionou a monogamia como "propriedade
privada da mulher".
Através
de uma análise de DNA, pesquisadores coordenados por Wolfgang Haak, da
Universidade de Adelaine, na Austrália, identificaram quatro corpos como sendo
uma mãe, um pai e seus dois filhos, de 8 ou 9 anos e 4 ou 5 anos. Com uma idade
de 4600 anos a descoberta consiste no mais antigo registro genético molecular
já identificado de uma família no mundo.
Família hoje
Famílias
tradicionais, famílias monoparentais, famílias recasadas, famílias ampliadas,
famílias não convencionais. Não existe uma família ideal ou um modelo pré-determinado
de família, existem famílias reais. Independente de sua configuração, a família
continua sendo a instituição social responsável pelos cuidados, proteção, afeto
e educação das crianças pequenas, ou seja, é o primeiro e importante canal de
iniciação dos afetos, da socialização, das relações de aprendizagem.
Família: desigualdade econômica
Dados do IBGE/1999: 30,5% das famílias
brasileiras com crianças até seis anos vivem com renda per capita mensal igual
ou inferior ao salário mínimo, resulta em toda ordem de exclusão e infância
reduzida. As crianças de família rica costumam ter uma infância de longa
duração, recebendo uma profusão de bens que não lhes permitem entender a
diferença do ter e não ter, não aprendem a repartir, e não sabem o que é
realmente desejar, confundindo desejar com consumir por consumir.
Conhecimento e Promoção de
Justiça Social
Acesso ao conhecimento sobre
desenvolvimento e aprendizagem, sobre saúde, sobre direitos entre outros
saberes, podem ser um importante contraponto entre saberes técnicos, saberes
cotidianos, valores e as realidades das famílias. Qualificando e ampliando as
oportunidades de dignidade para família brasileira.
Mine Dicionario luft. p.321
Família:
- núcleo parental, formado por pai, mãe e filhos;
- pessoa do mesmo sangue, parentela;
- linhagem, estirpe;
- grupo de gêneros de animais ou plantas com caracteres comuns;
- conjunto de tipos com as mesmas características básicas.
OBS.
A FAMÍLIA,
BASE DA SOCIEDADE TEM ESPECIAL PROTEÇÃO DO ESTADO. (C.F capítulo VII, ART,226.
1988)
·
FAMÍLIA UMA
NOVA ÉTICA
·
UM NOVO
COMPROMISSO
·
IDENTIDADE/VÍNCULO
·
E DIREITO A
DIFERENCIAÇÃO
Funções da
Família
·
REGULAÇÃO
SEXUAL
·
REPRODUÇÃO
·
SOCIALIZAÇÃO
·
AFETO
·
PROTEÇÃO
·
EDUCAÇÃO
Como os
papéis, as funções estão igualmente implícitas nas famílias, como já foi
referido. As famílias como agregações sociais, ao longo dos tempos, assumem ou
renunciam funções de proteção e socialização dos seus membros, como resposta às
necessidades da sociedade pertencente. Nesta perspectiva, as funções da família
regem-se por dois objetivos, sendo um de nível interno, como a proteção
psicossocial dos membros, e o outro de nível externo, como a acomodação a uma
cultura e sua transmissão. A família deve então, responder às mudanças externas
e internas de modo a atender às novas circunstâncias sem, no entanto, perder a
continuidade, proporcionando sempre um esquema de referência para os seus
membros (MINUCHIN, 1990). Existe conseqüentemente, uma dupla responsabilidade,
isto é, a de dar resposta às necessidades quer dos seus membros, quer da
sociedade (STANHOPE, 1999).
DUVALL e
MILLER (cit. por Idem) identificaram como funções familiares, as seguintes: “geradora de afecto”, entre os membros da
família; “proporcionadora de segurança e
aceitação pessoal”, promovendo um desenvolvimento pessoal natural; “proporcionadora de satisfação e sentimento
de utilidade”, através das atividades que satisfazem os membros da família;
“asseguradora da continuidade das
relações”, proporcionando relações duradouras entre os familiares; “proporcionadora de estabilidade e
socialização”, assegurando a continuidade da cultura da sociedade
correspondente; “impositora da autoridade
e do sentimento do que é correto”, relacionado com a aprendizagem das
regras e normas, direitos e obrigações características das sociedades humanas.
Para além destas funções, STANHOPE (1999) acrescenta ainda uma função relativa
à saúde, na medida, em que a família protege a saúde dos seus membros, dando
apoio e resposta às necessidades básicas em situações de doença. “A família,
como uma unidade, desenvolve um sistema de valores, crenças e atitudes face à
saúde e doença que são expressas e demonstradas através dos comportamentos de
saúde-doença dos seus membros (estado de saúde da família)” (Idem; p. 503).
Para
SERRA (1999), a família tem como função primordial a de proteção, tendo
sobretudo, potencialidades para dar apoio emocional para a resolução de
problemas e conflitos, podendo formar uma barreira defensiva contra agressões
externas. FALLON (cit. por Idem) reforça ainda que, a família ajuda a manter a
saúde física e mental do indivíduo, por constituir o maior recurso natural para
lidar com situações potenciadoras de stress associadas à vida na comunidade.
Relativamente à criança,
a necessidade mais básica da mesma, remete-se para a figura materna, que a
alimenta, protege e ensina, assim como cria um apego individual seguro,
contribuindo para um bom desenvolvimento da família e conseqüentemente para um
bom desenvolvimento da criança. A família é então, para a criança, um grupo
significativo de pessoas, de apoio, como os pais, os pais adoptivos, os
tutores, os irmãos, entre outros. Assim, a criança assume um lugar relevante na
unidade familiar, onde se sente segura. A nível do processo de socialização a
família assume, igualmente, um papel muito importante, já que é ela que modela
e programa o comportamento e o sentido de identidade da criança. Ao crescerem
juntas, família e criança, promovem a acomodação da família às necessidades da
criança, delimitando áreas de autonomia, que a criança experiencia como
separação.
A família
tem também, um papel essencial para com a criança, que é o da afectividade, tal
como já foi referido. Para MCHAFFIE (cit. por PINHEIRO, 1999), a sua
importância é primordial pois considera o alimento afectivo tão imprescindível,
como os nutrientes orgânico. “Sem o afecto de um adulto, o ser humano enquanto
criança não desenvolve a sua capacidade de confiar e de se relacionar com o
outro” (Idem; p. 30).
Deste
modo, “(...) a família constitui o primeiro, o mais fundante e o mais
importante grupo social de toda a pessoa, bem como o seu quadro de referência,
estabelecido através das relações e identificações que a criança criou durante
o desenvolvimento” (VARA, 1996; p. 8), tornando-a na matriz da identidade.
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